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Jomaro Cabrela , artista plástico, autodidacta, natural de Cinfães - Portugal, nasceu a 19 de Janeiro de 1960. Expõe desde 1982. Actualmente reside em Rio Tinto - Portugal onde tem residência e atelier.
Um autor é a sua obra - por isso não falo de mim. É o que faço que me revela, que fala por mim, que me diz.
O academismo não é em si mesmo virtude ou defeito - é tão só e apenas uma característica. Não ser académico, ser académico, perde toda a importância em função da única realidade: o discurso visual, a minha gramática.
Não sou um académico, poderia ser um académico: o que é que se alterava do essencial? Nada. Porque a pintura decide-se e afirma-se noutro território.
Desde a primeira exposição - 1982 / Museu Carlos Machado / Açores - inevitavelmente algumas coisas aconteceram, algumas linguagens se instalaram, alguma ou muita coisa poderá ter permanecido. Mas, tal como de mim, também do meu percurso, só a minha pintura pode falar. Por isso a exponho, por isso me exponho - não há outra voz que melhor me diga, ninguém me conhece melhor do que os gestos com que me digo.
Não existe pura criação. Toda a criação é um regresso à memória estética, é um diálogo com outras linguagens e outros criadores, para que de entre todos os lugares e rumores possa emergir a singularidade de uma voz.
De influências falamos ao falar de memória. O barroco, o maneirismo, o cubismo, o surrealismo, o abstracionismo, o expressionismo e todas as outras escolas e correntes de expressão estética influenciaram-me de diferente modo nas diferentes idades da minha pintura. Onde começa uma influência, de que forma é intensa a sua presença ou estranhamente total a sua ausência, não me parece importante saber. Porque não tenho esse vício cultural de nomear para possuir, de utilizar a linguagem como ilusão pueril da posse - que importa o nome se tudo começa no caos primordial e inominável?
O inominável existe na intensidade plena de todos os nomes possíveis para o ilimitado do mundo - o meu olhar sobre a arte, a minha forma de a ver para além de todos os olhares, existe tão incontornável como a necessidade de dar forma ao plural que sou; que na minha linguagem alguém se reconheça em cumplicidade estética, ou que na minha linguagem vejam só a estranheza de uma fala, não é nem poderia ser nunca para mim uma interrogação ou um dilema metafísico - porque eu não escolhi a minha voz, porque o que fala em mim é o irrecusável do ser: como poderia eu ter outra voz, como poderia eu mover-me num espelho que não reflectisse a minha imagem? Entre as linguagens, entre as vozes, há uma voz longínqua que sobe em mim para ser eu - e não há outra linguagem. Porque a arte é uma gramática da solidão.
Jomaro Cabrela