RECONHECIMENTO DO TALIAN
Honório Tonial
“ Quando Deus criou o mundo Ele o fez utilizando a força das palavras. Ordenou o surgimento da luz, do firmamento, da terra, das águas, dos animais, das árvores, enfim, do universo inteiro. Por último chamou à existência o homem e a mulher. Apenas falava e as coisas, uma a uma iam tomando o seu assento. No fim , Ele olhou ao redor e ficou contente, pois tudo estava muito bem feito. A palavra, portanto, tem feitio divino e carrega um poder criador.
Os códigos de linguagem permitem que nós nos comuniquemos. Juntando códigos e expressões formamos uma língua que é algo sagrado. Ao resgatá-la estamos realizando uma obra de salvação. Quem salva uma língua, salva a história, a cultura, os costumes, o jeito de comunicar e a identidade de um povo.
Assim , os descendentes de italianos fazem muito bem quando falam sua língua materna. Também os descendentes de alemães, poloneses e assim por diante. Hoje, infelizmente, fala mais alto a linguagem da economia e do livre comércio. Com a tal de globalização vamos, pouco a pouco, perdendo nossas raízes e nossos valores morais, sociais e culturais . Levam daqui as riquezas e nos obrigam a ser quem não somos: estrangeiros na própria pátria. Mas, nós não vamos permitir que furtem a nossa língua e os nossos sonhos e que nos façam esquecer a nossa história.” Dirceu Benincá, 2000, p.4 Prefácio de TALIAN , la nostra vera língua, de Honório Tonial.
A língua oficial do Brasil é o Português. Todavia é praticamente impossível falar exclusivamente o Português sobretudo no sul do Brasil e dizer que se fala e se compreende apenas o Português. Porque, sejam os luso-brasileiros, sejam os de origem alemã, italiana, francesa, holandesa, como também os japoneses, chineses, poloneses, caboclos , indígenas e pessoas de todos os âmbitos do hemisfério, aqui habitantes, cada um sabe falar , ao menos alguma palavra de sua língua familiar. O próprio Português possui suas peculiaridades lingüisticas de região em regiião.Estudiosos como Alberto Poggi ( 1996 : 40 ) em “ Babele a Roverscia”, ante a história das línguas, afirma : “ Aore, Ongota, Elmolo , Lardi ... O que são..? Apenas uma ínfima seleção entre as duas mil línguas existentes no nosso planeta até há poucos anos atrás , agora, umas mais, outras menos em vias de extinção. Assim , Aore está virtualmente morta porque só uma pessoa no mundo ainda é Capaz de falá-la. Eyak, um velho idioma do Alaska, cujo futuro depende apenas da sobrevivência da anciã Maria Smidt Jones, última expoente daquela tribo.” E, prossegue: “ Se , a apenas quinze mil anos passados uma população mundial de alguns milhões de indivíduos falava entre dez e doze mil línguas diversas, hoje o número é reduzido a cerca de oito mil falares e o ritmo de desaparecimento não tende a se interromper. Pelo contrário, nestes últimos decênios nota-se uma preocupante aceleração. Segundo algumas estimativas, um percentual compreendido entre 20% e 50% das cinco mil línguas atualmente conhecidas não seriam mais faladas pelas crianças devendo desaparecer no decorrer de uma geração.”
Continuando na sua análise, Poggi (1996 : 41 ) afirma:
“ Todavia, se um povo com a própria cultura e expressividade lingüística é, por muitos ângulos , comparável a um sistema biológico, então, como tal , se envolve em estreita simbiose com as preferências e comportamentos dos indivíduos que o circundam. - Que sentido haverá, pois, em buscar a conservação de uma língua..? Não se trata, por acaso, da última violência perpetrada pelo sistema ocidental - historicamente responsável da maioria das exclusões de massa que assim chega às minorias o seu último direito, aquele da evolução cultural..? O fato é que os maiores perigos de extinção sofrem aquelas populações - e portanto, as línguas – nas quais é maior a pressão e a invasão das culturas dominantes. Gian Luiggi Baccaria ( em Poggi:42 ) analisa , com preocupação a problemática: “ A cada dia morre uma palavra, e pois, dissolve-se uma língua. A imposição de uma língua dominante, fundamento do poder e atentado à democracia, como ensinam os Romanos, é o primeiro passo de toda a colonização .Para a cultura que sofre esta imposição o trauma coenvolve a esfera global do saber.” Muitos outro poliglotas manifestam sua preocupação e confirmam a necessidade histórica e cultural da manutenção do idioma que distingue as diversas gerações. Dentre os idiomas mais falados pela população culturalmente minoritária queremos destacar o Talian, único de intercomunicação dos primeiros imigrantes italianos que, jogados no isolamento das nossas antigas florestas, podiam usufruir deste singular idioma para poder construir as suas coletividades e dar origem aos primeiros agrupamentos sociais. E com que sacrifício conseguira intercomunicar-se. Convem salientar que , conforme recente pesquisa, no seu país de origem, ainda hoje verifica-se a existência de quarenta e dois idiomas com registro escrito. Oriundos de províncias diferentes e com falares específicos os vênetos, friulanos, trentinos e lombardos em maior número, foram jogados pRECONHECIMENTO DO TALIAN
Honório Tonial
“ Quando Deus criou o mundo Ele o fez utilizando a força das palavras. Ordenou o surgimento da luz, do firmamento, da terra, das águas, dos animais, das árvores, enfim, do universo inteiro. Por último chamou à existência o homem e a mulher. Apenas falava e as coisas, uma a uma iam tomando o seu assento. No fim , Ele olhou ao redor e ficou contente, pois tudo estava muito bem feito. A palavra, portanto, tem feitio divino e carrega um poder criador.
Os códigos de linguagem permitem que nós nos comuniquemos. Juntando códigos e expressões formamos uma língua que é algo sagrado. Ao resgatá-la estamos realizando uma obra de salvação. Quem salva uma língua, salva a história, a cultura, os costumes, o jeito de comunicar e a identidade de um povo.
Assim , os descendentes de italianos fazem muito bem quando falam sua língua materna. Também os descendentes de alemães, poloneses e assim por diante. Hoje, infelizmente, fala mais alto a linguagem da economia e do livre comércio. Com a tal de globalização vamos, pouco a pouco, perdendo nossas raízes e nossos valores morais, sociais e culturais . Levam daqui as riquezas e nos obrigam a ser quem não somos: estrangeiros na própria pátria. Mas, nós não vamos permitir que furtem a nossa língua e os nossos sonhos e que nos façam esquecer a nossa história.” Dirceu Benincá, 2000, p.4 Prefácio de TALIAN , la nostra vera língua, de Honório Tonial.
A língua oficial do Brasil é o Português. Todavia é praticamente impossível falar exclusivamente o Português sobretudo no sul do Brasil e dizer que se fala e se compreende apenas o Português. Porque, sejam os luso-brasileiros, sejam os de origem alemã, italiana, francesa, holandesa, como também os japoneses, chineses, poloneses, caboclos , indígenas e pessoas de todos os âmbitos do hemisfério, aqui habitantes, cada um sabe falar , ao menos alguma palavra de sua língua familiar. O próprio Português possui suas peculiaridades lingüisticas de região em regiião.Estudiosos como Alberto Poggi ( 1996 : 40 ) em “ Babele a Roverscia”, ante a história das línguas, afirma : “ Aore, Ongota, Elmolo , Lardi ... O que são..? Apenas uma ínfima seleção entre as duas mil línguas existentes no nosso planeta até há poucos anos atrás , agora, umas mais, outras menos em vias de extinção. Assim , Aore está virtualmente morta porque só uma pessoa no mundo ainda é Capaz de falá-la. Eyak, um velho idioma do Alaska, cujo futuro depende apenas da sobrevivência da anciã Maria Smidt Jones, última expoente daquela tribo.” E, prossegue: “ Se , a apenas quinze mil anos passados uma população mundial de alguns milhões de indivíduos falava entre dez e doze mil línguas diversas, hoje o número é reduzido a cerca de oito mil falares e o ritmo de desaparecimento não tende a se interromper. Pelo contrário, nestes últimos decênios nota-se uma preocupante aceleração. Segundo algumas estimativas, um percentual compreendido entre 20% e 50% das cinco mil línguas atualmente conhecidas não seriam mais faladas pelas crianças devendo desaparecer no decorrer de uma geração.”
Continuando na sua análise, Poggi (1996 : 41 ) afirma:
“ Todavia, se um povo com a própria cultura e expressividade lingüística é, por muitos ângulos , comparável a um sistema biológico, então, como tal , se envolve em estreita simbiose com as preferências e comportamentos dos indivíduos que o circundam. - Que sentido haverá, pois, em buscar a conservação de uma língua..? Não se trata, por acaso, da última violência perpetrada pelo sistema ocidental - historicamente responsável da maioria das exclusões de massa que assim chega às minorias o seu último direito, aquele da evolução cultural..? O fato é que os maiores perigos de extinção sofrem aquelas populações - e portanto, as línguas – nas quais é maior a pressão e a invasão das culturas dominantes. Gian Luiggi Baccaria ( em Poggi:42 ) analisa , com preocupação a problemática: “ A cada dia morre uma palavra, e pois, dissolve-se uma língua. A imposição de uma língua dominante, fundamento do poder e atentado à democracia, como ensinam os Romanos, é o primeiro passo de toda a colonização .Para a cultura que sofre esta imposição o trauma coenvolve a esfera global do saber.” Muitos outro poliglotas manifestam sua preocupação e confirmam a necessidade histórica e cultural da manutenção do idioma que distingue as diversas gerações. Dentre os idiomas mais falados pela população culturalmente minoritária queremos destacar o Talian, único de intercomunicação dos primeiros imigrantes italianos que, jogados no isolamento das nossas antigas florestas, podiam usufruir deste singular idioma para poder construir as suas coletividades e dar origem aos primeiros agrupamentos sociais. E com que sacrifício conseguira intercomunicar-se. Convem salientar que , conforme recente pesquisa, no seu país de origem, ainda hoje verifica-se a existência de quarenta e dois idiomas com registro escrito. Oriundos de províncias diferentes e com falares específicos os vênetos, friulanos, trentinos e lombardos em maior número, foram jogados promiscuamente no meio da floresta , se nenhum meio de comunicação. Vocábulos diferentes expressam a mesma significação. Assim: “missora e sésola “ designam a foicinha utilizada para ceifar o trigo “crível” e “tamiso” nomeiam o utensílio destinado a peneirar farinhas. Com vistas à unificação da língua falada pelos nossos primeiros imigrantes italianos E como decorrência natural prevaleceram os vocábulos mais usados , caindo os restantes em desuso.
romiscuamente no meio da floresta , se nenhum meio de comunicação. Vocábulos diferentes expressam a mesma significação. Assim: “missora e sésola “ designam a foicinha utilizada para ceifar o trigo “crível” e “tamiso” nomeiam o utensílio destinado a peneirar farinhas. Com vistas à unificação da língua falada pelos nossos primeiros imigrantes italianos E como decorrência natural prevaleceram os vocábulos mais usados , caindo os restantes em desuso.