User:Ungoliant MMDCCLXIV/annotated texts/A mulher curiosa

Hello, you have come here looking for the meaning of the word User:Ungoliant MMDCCLXIV/annotated texts/A mulher curiosa. In DICTIOUS you will not only get to know all the dictionary meanings for the word User:Ungoliant MMDCCLXIV/annotated texts/A mulher curiosa, but we will also tell you about its etymology, its characteristics and you will know how to say User:Ungoliant MMDCCLXIV/annotated texts/A mulher curiosa in singular and plural. Everything you need to know about the word User:Ungoliant MMDCCLXIV/annotated texts/A mulher curiosa you have here. The definition of the word User:Ungoliant MMDCCLXIV/annotated texts/A mulher curiosa will help you to be more precise and correct when speaking or writing your texts. Knowing the definition ofUser:Ungoliant MMDCCLXIV/annotated texts/A mulher curiosa, as well as those of other words, enriches your vocabulary and provides you with more and better linguistic resources.

A mulher curiosa


  • Author: Teófilo Braga.
  • Date: 1883.
  • Dialect: European.
  • Register: standard.

A MULHER CURIOSA

Havia numa terra uma mulher muito curiosa; não se passava coisa na rua de que não desse fé. A qualquer hora da noite estava sempre por detrás da gelosia a espreitar e a escutar o que ia. Uma noite estava ela deitada, quando ouviu passos pela rua; a curiosidade -la saltar fora da cama, e mesmo em camisa foi pôr-se ao postigo. Era uma procissão que passava, e de que ela nunca ouvira falar. A procissão era muito comprida, e o que mais a fazia pasmar é que ninguém fazia barulho, nem se ouviam as passadas daquele tropel de gente. A mulher estava pasmada; eis senão quando passa um homem que ela conhecia. Era o seu compadre, que havia tempo que morrera. Para certificar-se da sua curiosidade[note 1] usou de uma aramanha[note 2]:

Oh meu compadre! disse ela quando o vulto passou rente ao postigo; você empresta-me a sua tocha para acender a candeia que se me[note 3][note 4] apagou?

O vulto deu-lhe a tocha e foi andando; acabada a procissão,[note 5] a mulher foi para a cama, e não podia dormir; quando alvoreceu, e se levantou, é que notou que o quarto estava alumiado com uma luz acesa. Vai para certificar-se, era o braço de um defunto. A mulher ficou trespassada de medo, e foi confessar o caso a um padre.

É castigo da curiosidade; agora é esperar que a procissão torne a passar daqui a oito dias, para entregar ao seu compadre o braço do defunto.

Chegado o dia, a mulher curiosa pôs-se ao postigo, e das duas[note 6] para as três horas da madrugada passou a procissão dos defuntos do mesmo feitio, sem fazer barulho.

Quando ela viu aproximar-se o vulto do compadre, estendeu o braço e entregou-lho. A procissão desapareceu ao cabo da rua, e quando amanheceu foram dar com a mulher morta debruçada ao postigo. Todos os que a conheciam disseram pela mesma boca: Foi castigo, foi castigo.

Notes

  1. ^ unusual use of certificar-se; possibly regional or dated
  2. ^ obsolete slang term used in Portugal, defined as “intentionally deceptive language”
  3. ^ in Portuguese, indirect objective pronouns are sometimes used instead of possessive pronouns
  4. ^ the use of multiple non-nominative pronouns in a row is rare in Brazilian Portuguese
  5. ^ this type of construct, “<participle> <subject>, ”, is equivalent to English “after <subject> had <participle>,
  6. ^ time in Portuguese is usually expressed with the word hora omitted